quarta-feira, julho 12, 2017

HAVERÁ LIMITES PARA A PATRIMONIALIZAÇÂO?


nesta última romaria da sª do Almortão surgiram no espaço envolvente um conjunto de iniciativas ou intervenções patrimonializantes em torno de um caminho ou "rota da sª do Almortão", que congrega um conjunto de "textualizações" e elementos ou marcas no espaço (tendo como principais impulsionadores a confraria da Senhora do Almortão). algumas destas marcas/"labels" causaram algum desconforto em muitos romeiros (as), como foi o caso deste azulejo com a imagem do sagrado no piso que dá acesso à ermida. ao jeito de uma etnografia "espontânea" fui registando algumas opiniões ao acaso.

("nunca pensei que pusessem a Nossa Senhora no chão para as pessoas a pisarem, ela não merece isto"; "se arranjassem um toldo como deve ser para o alpendre, em vez de andarem a gastar dinheiro com invenções"; "fiquei bastante magoada ao ver a imagem de Nossa Senhora no chão, quase chorei"; "eu nem percebi muito bem o que andaram a fazer"; "eu disse ao senhor padre que isto não se fazia"; "eu sei bem quem é que andou a fazer esta palhaçada"; "se isto assim continuar, nunca mais lá vou"; "eu nem reparei, só depois é que ouvi dizer"; "eu até pensava que aquilo fosse um papel no chão e fui a ver"; "quem pensou isto não sabe o que é a romaria, só pode ter sido alguém de fora"; "ela não merece ser pisada por ninguém, onde está a fé e a devoção?"; "eu nem gosto, nem desgosto, então em Fátima também não andaram lá a pôr aquele "mamarracho"!";)

penso que iniciativas deste genero, num espaço com uma carga identitária tão ampla, com manifestações colectivas tão vincadas e vivas, qualquer intervenção ou intervenções desta  natureza no espaço do sagrado, têm que ser extremamente diligentes e sempre com o sentido de baixo para cima, merecem, e porque não, discussão pública, é neste sentido que os patrimónios e os seus processos ganham envolvências colectivas, sentido de pertença... 

por outro lado, são problemáticas que nos remetem para uma paleta de temas muitíssimo interessantes de serem analisados: simbólico, a identidade local, a própria religiosidade, aspectos perfomativos, políticas culturais, etc...(continua)


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